ATA DA QÜINQUAGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 06.10.1988.

 


Aos seis dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Qüinquagésima Quarta Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Jaime de Marco, concedido através do Projeto de Resolução nº 33/88 (proc. nº 671/88). Às dezessete horas e dezoito minutos, constatada a existência de "quorum", o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Daniel Cunha, Secretário Estadual de Minas, Energia e Comunicações; Eng. Pedro Bisch Neto, Presidente do CREA; Dr. Eurico Trindade Neves, Ministro do Tribunal de Contas do Estado; Sr. Jurandir Leite, Presidente do Sindicato dos Telefônicos; Jorn. Wilson Müller, representando, neste ato, o Presidente da ARI; Dr. Jaime Souza de Marco, Homenageado; Srª. Ida Lisboa de Marco, Esposa do Homenageado; Ver. Hermes Dutra, Secretário "ad hoc". A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Hermes Dutra, em nome da Bancada do PDS, dizendo que a história da telefonia no Estado confunde-se com a história do Homenageado, destacou sua satisfação por participar da presente solenidade, analisando os motivos que levaram à concessão do título hoje entregue. O Ver. Raul Casa, em nome da Bancada do PFL, salientando que o título de Cidadão Emérito é concedido pela Casa àqueles cujo trabalho constitui-se na busca do desenvolvimento da nossa comunidade, discorreu sobre a vida do Dr. Jaime de Marco, voltada para seu aperfeiçoamento profissional e pessoal. O Ver.Flávio Coulon, em nome da Bancada do PMDB, registrou a presença, no Plenário, de um grande número de funcionários da CRT, congratulando-se com S.Sas. e analisando os problemas políticos e econômicos atualmente enfrentados por aquela Companhia. E o Ver. Brochado da Rocha, como proponente da Sessão e em nome das Bancadas do PDT e do PCB, teceu comentários sobre os motivos que o levaram a propor a presente solenidade, salientando a vida profissional do Homenageado e discorrendo sobre a implantação e o desenvolvimento da Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações, que sempre teve em seu quadro de pessoal a força decisiva de seu progresso. Analisou a crise política encontrada dentro da CRT. A seguir, o Sr. Presidente convidou o Ver. Brochado da Rocha e a mãe do Homenageado a procederem à entrega, respectivamente, do Título Honorífico de Cidadão Emérito e do Troféu Frade de Pedra ao Dr. Jaime de Marco e concedeu a palavra a S.Sa., que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Pesidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezenove horas, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha e Artur Zanella e secretariados pelo Ver. Hermes Dutra, Secretário "ad hoc". Do que eu, Hermes Dutra, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Dou por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene e passo a palavra ao Ver. Hermes Dutra, que fala pela Bancada do PDS.

 

O SR. HERMES DUTRA: Exmo. Sr. Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Srs. Vereadores, meu prezado Jaime Souza de Marco.

Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores, uma saudação muito especial aos empregados da Cia. Rio-Grandense de Telecomunicações, os que aqui vieram para prestigiar este ato de reconhecimento do seu colega, cuja história se confunde com a própria historia da telefonia no Rio Grande do Sul. Não fosse eu, meu prezado Jaime, Líder da minha Bancada, porque cabe ao Líder fazer a indicação de quem fala nas Sessões Solenes, estaria eu, por certo, a reivindicar junto ao meu Líder o direito de falar no dia de hoje, por muitos e muitos motivos, alguns dos quais tu conheces muito bem e que, talvez, seria desnecessário ou fosse até talvez melhor não dizer no dia de hoje. Outro motivo que me faria reivindicar, vir aqui, hoje, saudá-lo em nome do meu Partido, o PDS, e porque acho que, quando se homenageia uma pessoa com as tuas qualidades, para quem tem o privilégio de subir a tribuna, é, efetivamente, também um momento de glória na nossa vida. E deveria saudá-lo, Jaime, por tudo aquilo que fizestes de bom aos teus colegas, que soubeste tratar como colegas, quando foste chefe de departamento da Companhia, que não te esqueceste que eras colega deles, quando foste Diretor da CRT. E, talvez, essa saudação, a faça, quem sabe, sem ter tido a delegação oficial, em nome de muitos servidores da nossa empresa, humildes, que gastariam de estar aqui, hoje, para se somar aos aplausos que, merecidamente, vais receber. Mas teria também outro motivo para falar, é que não poderia o meu Partido ficar de fora de solenidade desta, quando a Cidade, através da sua Casa, reconhece, de publico e de forma oficial aquilo que oficiosamente, no coração de cada um dos que contigo convivem, não é novidade, a pureza de tudo que fazes, seja no teu lar, seja na tua atividade, ou ainda, quando a saúde te permitia, fazeres aquelas corridas pelo nosso Parque Marinha do Brasil que era o melhor modo de se ter uma audiência com o Diretor da Companhia. E, por fim, também, teria motivos de vir aqui, para dar o meu testemunho pessoal, não do Vereador, do que foste, porque tive o privilegio, e muitos de vocês que aqui estão tiveram, de conviver com Jaime Souza de Marco. Cheguei a procurar hoje, folhei a Bíblia, encontrei um trecho do Evangelho que me passou uma vez pelos olhos e de que não mais me lembrava. Era um trecho não sei se de Marcos ou João, que falava que nós na Terra somos coisas tão pequeninas e tão passageiras que só nos engrandecemos da origem de onde viemos, se soubermos, durante o período em que aqui ficarmos, que é curto, se comparado com a história do mundo, se soubermos dignificar o que fazemos. É bem verdade que as pessoas tendem, com o passar do tempo, a esquecer certas coisas. E este ato de hoje, Jaime, tem vários significados e um deles é até mesmo para evitar que a Cidade não mais se esqueça de Jaime Souza de Marco. Daqui a cinqüenta, cem anos, alguém haverá de ler, nos Anais desta Casa, a história desta Sessão Solene e isentamente poderá fazer o julgamento que, no fundo do coração, teus amigos de ti fazem. O significado desta Sessão pode até, aos olhos de uns, não parecer o que é. Por certo, haverá quem entenda porque dizem que Deus limitou a inteligência dos homens e não lhe deu a felicidade do infinito no conhecimento, mas infelizmente para alguns ele limitou a capacidade de compreensão, e esta falta de capacidade de percepção, de compreender a missão de cada um de nós, seja como operários, como engenheiro, que és, ou como dirigente, que muitos são, esta capacidade de perceber até onde devemos e até onde podemos ir. Esta capacidade foi limitada em alguns, e o homem, que deveria ser a imagem e a semelhança de Deus, parece que aí se perde e renega a criatura que o fez. Pode até parecer, Jaime, que falo aqui por parábolas, mas acho que me faço entender.

Há uns dois ou três anos atrás, a tua classe, a dos engenheiros, já tinha feito de público o reconhecimento do que és na tua profissão. Na oportunidade, nesta Casa, justificando um Voto de Congratulações que fiz pela feliz escolha dos engenheiros, lembrava que nós todos estamos aqui para cumprir uma missão e que esta missão desenvolvida por ti o era em sua plenitude e dizia mais, como engenheiro que és, naquela oportunidade por certo, repito, muitas outras empresas, não só daqui de Porto Alegre, mas de outros Estados, gostariam muito de ter em seus quadros aquele que foi escolhido o "Engenheiro do Ano". Não por o "Engenheiro do Ano", porque aquela escolha é conseqüência, mas porque era o Jaime Souza de Marco.

Quando o Ver. Brochado da Rocha, numa feliz inspiração, apresentou a proposta deste título, na sua primeira Sessão de discussão, voltei à questão e lembrava que, no Brasil, se criou esta péssima mentalidade de que as pessoas que servem a uns não servem a outros e que, por certo, repetindo então o que dizia naquela oportunidade, quando foste escolhido engenheiro do ano, que, por certo, naquele momento, havia por este Brasil muitos dirigentes de estatais telefônicas a lamentar não poderem, com um estender de mão, de puxar do Rio Grande, para ires com o teu conhecimento, com a forma que tem de vivenciares os problemas da área de telecomunicações, abrilhantar outras empresas de outras plagas. E eu dizia que convites foram coisa que nunca te faltou, mas este homem, que é tanto apegado ao Menino Deus, quanto apegado a Porto Alegre, sempre foi impedido, pelas suas próprias raízes, de daqui sair, e aqui ficou ou permaneceu. Sempre se recusando, sistematicamente, a não sair do nosso Estado, a não aceitar convites, que muitas vezes até eu fui portador, para que alçasse vôos mais altos, porque capacidade, liderança, nunca lhe faltaram. Mas o velho Jaime, como nós o chamávamos, sempre fazia aquele sorriso calmo e sereno, coçava a sua barba e dizia: "Não tenho jeito para estas coisas. Eu sou, mesmo, é engenheiro da CRT." Título, alias, que ele dizia e diz com o maior orgulho.

E quero te dizer, Jaime, que acho que orgulho maior, para nós, que trabalhamos na CRT, é ver que a Cidade está te reconhecendo, e se a Cidade te reconhece, Jaime, acho que o resto é secundário. Quer coisa melhor é ver este auditório cheio, este Plenário repleto, faltando cadeiras para os teus amigos sentarem. E sabendo nós que muitos outros não tiveram o privilegio que nós temos de estar aqui hoje. Eles estariam aí, Jaime, aos borbotões, se assim pudessem vir para te abraçar, porque neles, nos teus colegas, tu tens lugar cativo. Eles não te esquecem. Por certo, ao longo da tua vida, alguns erros cometestes, porque o erro é inerente ao homem, mas esses erros, se houve, em momento algum, empanaram este conceito que desfrutas naquele homem simples que sobe num poste ou que fica naquele emaranhado de fios a juntar um ao outro para que nós possamos fazer a nossa comunicação telefônica sem chiados, sem ruídos e sem problemas. Me lembro do Jaime, trabalhei com ele bons anos, a reclamar de seus colaboradores, posto que subordinados nunca teve, a lhes dizer incessantemente que para o usuário não interessa desculpa e que manutenção boa é aquela da qual não se fala, porque, quando se fala, é porque problema existe. Me lembro do Jaime a ficar, e me lembro aí na Hilde, na sua família, a ficar bem mais tarde, além do expediente, dia após dia, a tentar desatar os imensos nós - e eram verdadeiros nós mesmo - das telecomunicações de nosso Estado. Me lembro do Jaime calmo e sereno, nas nossas reuniões de Diretoria, dando a sua opinião e a fundamentando, muitas vezes convencendo, muitas vezes não convencendo, mas sabendo, mesmo não convencendo, ter a humildade de aceitar a posição e a opinião dos outros. E esta virtude, Jaime, não são todos que a tem. Respeitar a posição e a opinião do outro, só faz isso quem tem grandeza de espírito, quem tem grandeza de coração. E isto é uma exigência que, infelizmente, não podemos fazer a todos. Por fim, motivos, vejam os Senhores, não me faltaram para vir à tribuna hoje à tarde. Talvez, não sei se no fundo, Jaime, não esteja eu com um pouco de sentimento de melancolia. Não sei por quê. Mas acho que os homens, que por serem homens erram, também haverão de acertar; e, em acertando, por certo, vão reconhecer o erro que muitas vezes as pessoas fazem e o mal que, muitas vezes, causam. Mas a Sessão de hoje é uma Sessão Solene. Ela é de festa e é para homenagear o nosso Jaime. Não fiquemos nós com alguma lembrança triste que eventualmente nos venha à mente. Jaime, eu quero, em nome da nossa Bancada, do Rafael Santos, que tu conheces tão bem, do Mano José, que conheces mais, e no meu nome pessoal, em nome do meu Partido, te dizer que das coisas que fazemos com satisfação nesta Casa é, por exemplo, votar um título como esse. Por muito do que significa para ti, para tua família, mas por muito do que significa para nós, e para mim, de uma forma muito particular. Reconhecer de direito, repito, aquilo que a Cidade de fato já te havia dado. É um Cidadão Emérito porque merece, porque fez pela sua Cidade e porque pautou sua vida sempre num horizonte único de trabalhar, de fazer, de lutar, de promover o bem e, sobretudo, Jaime - e acho que esse legado tu podes transmitir com orgulho para os teus filhos - é que até aqueles que de ti divergem têm de reconhecer que sempre fizeste as coisas com o maior amor, botando tudo o que esse coração hoje safenado tinha para dar. É um homem que age com o coração, mas sem deixar a razão. Este é o Jaime que eu conheci, com quem eu trabalhei e que eu gostaria tanto que as telecomunicações do nosso Estado tivessem irradiadas sobre si o teu conhecimento, a tua postura, o teu amor, porque com essas três coisas é que se faz uma grande empresa. Meu abraço, Jaime, mas um abraço apertado mesmo, dado do fundo do coração. Que Deus te abençoe e te ilumine. E te lembra sempre, Jaime, que tu não deves nada absolutamente a ninguém, nem a esta Casa, que hoje te deu esse título. Esta Casa te fez justiça, e esta justiça não vai faltar nunca. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Ver. Raul Casa, que falará em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. RAUL CASA: Exmo. Sr. Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Daniel Cunha, Secretário Estadual de Minas, Energia e Comunicações; Eng. Pedro Bisch Neto, Presidente do CREA; Eurico Trindade Neves, ilustre Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado; Sr. Jurandir Leite, Presidente do Sindicato dos Telefônicos; Jorn. Wilson Muller, representando, neste ato, o Presidente da ARI, Jorn. Alberto André; nosso homenageado Jaime e sua esposa Ida de Marco.

"Constitui-se uma tradição, nesta Casa centenária, destacar aqueles que, mercê de seu trabalho, de seu exemplo e liderança merecem o reconhecimento da comunidade em que vive. Esta é, como já disse o meu ilustre amigo, meu antecessor, Ver. Hermes Dutra, o registro para a história de Porto Alegre da homenagem que seus representantes prestam àqueles homens cuja vida tem-se constituído no fascinante e permanente desafio de tornar harmônico o relacionamento entre os que o cercam.

Homenageamos um homem, o seu estilo de viver, de pensar, nesta grata festa de congraçamento, cuja festa, certamente, Dona Hilda, Fernando e Janice assistem com emoção.

A trajetória da vida de nosso Homenageado é a historia típica de um homem dedicado ao estudo, ao trabalho, à profissão que abraçou com amor e seriedade.

Professor, engenheiro laureado, é um exemplo de fé em si mesmo, um exemplo de humildade diante dos fatos e das circunstâncias, um homem superior, que certamente vê a vida da ótica superior de quem sabe.

E, como dizia Rui, "enquanto houver uma réstia de esperança não há porque se desesperar da sorte e do bem, a injustiça pode se impacientar, porque é precária, a verdade jamais se impacienta porque é eterna".

Quando nós praticamos uma ação de bem, não sabemos se é para hoje ou para quando. A verdade é que seus frutos podem ser tardios, mas são certos. Alguns plantam a semente da couve para o alimento do amanhã, outros plantam a semente do carvalho para o abrigo do futuro, aqueles egoístas plantam para si, estes plantam para o bem da humanidade.

Senhores, o sentimento que mais choca um homem de bem, um homem de bem, é pedir, é tal este constrangimento que não há apelo que condene, nem entendimento que facilite; quem dá o que têm pode dar o que vale pouco, mas quem abre mão do que lhe é devido por direito e por justiça dá o que mais custa a um homem: a dignidade. A palavra mais dura de se pronunciar, pois ela afoga é "peço". É sentença antiga que compra mais caro quem pede. Quem para dar espera que lhe peçam, vende; e quem pede para comprar o faz pelo preço mais caro.

Há seres que, não querendo ensinar, ensinam, não desejando convencer, convencem, não querendo induzir, induzem, não querendo liderar, lideram. São seres que recebem como uma dádiva este dom, e quanto mais nobres, mais humildes.

Muitos até procuram ocultar estas virtudes ou a pedir desculpas por serem como são, como se fosse uma apropriação indébita terem em abundância a solidariedade, o calor humano, a intuição do bem, porque são estruturados na confiança em si, e  no seu passado.

Feliz a iniciativa do querido amigo e Presidente desta Casa, o ilustre Vereador Brochado da Rocha, em realçar a figura do amigo de todos nós, Jaime Souza de Marco.

O verdadeiro centro de gravidade do progresso assenta-se no administrador esclarecido, capacitado a usar o conhecimento acumulado. A capacidade de fazer certas coisas, predominante na vida das organizações, até há alguns anos, está hoje substituído pela capacidade de fazer que as coisas certas sejam feitas. Ser eficaz é a função do administrador, quer ele exerça sua atividade numa empresa, numa fabrica, hospital, universidade ou repartição pública; profissional que fez da verdade alicerce de sua ação, oferece-nos um modelo de trabalho, onde a fidelidade a princípios se consolidavam. O labor em sua atividade não foi uma solução para a verdade, mas foi um caminho para a verdade. Aprendi que as lições de vida nem sempre são aquelas que os livros nos transmitem, a escola nos transmite. Mas o exemplo da atitude, do gesto, da sensibilidade, no modo de proceder. Esta lição o Dr. Jaime nos dá. Seja qual for a profissão que se escolher, já dizia Pasteur, ela deve ter sempre um fim moral. Quando se aliam a firmeza de caráter, a moral e o profissionalismo, o cidadão conquista a consolidação e a estima pública. É o que acontece com o nosso Jaime de Marco. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, com a palavra o Ver. Flávio Coulon pela Bancada do PMDB.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Srs. Vereadores, meus Senhores e minhas Senhoras, trabalhadores aqui presentes e que tiveram a coragem de vir aqui, mesmo sabendo que podem sofrer represália, a minha admiração, o meu respeito e cumprimentos. É da força de vocês que depende o futuro de vocês. Trabalhadores da CRT aqui ausentes, porque temem represália, como diversos engenheiros que me procuraram ontem à tarde, a minha compreensão. Eu sei. Eu sei o que eles passam. Minhas Senhoras e meus Senhores. Raramente, subi a esta tribuna - posso dizer que nunca subi a esta tribuna desta forma - tão constrangido - como o faço hoje.

Desde o momento em que foi marcado o dia 6 de outubro para homenagear o meu colega Jaime de Marco e preparei uma saudação de alegria, uma saudação de festa, uma saudação de glória.

Rejubilei-me junto com meus colegas engenheiros, arquitetos, agrônomos, junto com os trabalhadores da CRT; junto com a minha Sociedade de Engenharia, que lhe deu, há dois anos atrás, o Título de Engenheiro do Ano. Título que ele conquistou num abaixo-assinado, assinado por 197 engenheiros da CRT dos 210 engenheiros que ela tinha. Foi uma escolha unânime da nossa classe.

Rejubilei-me, como Governo do PMDB, porque iria homenagear, aqui, hoje, um Engenheiro da CRT, da Cia. Rio-grandense de Telecomunicação, e preparei o discurso. Aliás, eu devo pedir desculpas ao homenageado, porque o protocolo da Casa determina que o discurso seja feito por escrito e, depois, entregue ao homenageado. O discurso que eu tinha escrito para ti, Jaime, eu rasguei, porque os acontecimentos destes últimos dias não me permitiram, até este momento, que eu pudesse saber o que eu deveria dizer nesta tribuna. Mas, ao mesmo tempo em que eu estou constrangido, meus amigos, eu também estou feliz comigo mesmo. Eu estou muito consciente da responsabilidade que eu tenho como membro do PMDB, porque eu vejo, e vi neste episódio do Jaime, como é importante que nós não fujamos às responsabilidades de arrostarmos, dentro do nosso Partido, com aquelas coisas erradas que são feitas. Porque é permanecendo dentro do meu Partido é que eu pude lutar e, hoje, estou aqui feliz e posso olhar o Jaime nos olhos, porque ele sabe que há dias estamos lutando para que esta cerimônia fosse realizada.

E eu me rejubilo por ser do PMDB, porque surgiu um fato novo que eu não esperava, e que dá uma dimensão da grandeza do meu Partido, que é a presença, nesta Casa, do Secretario de Minas e Energia, presença esta que eu interpreto como um desagravo ao Eng.° Jaime de Marco. (Palmas.) Um dos meus discursos imaginários, ao longo desse tempo, é que eu pensava em cobrar aqui por que essa empresa, que já foi a 5ª empresa de serviços no Pais, hoje é a 27ª? Por quê? O que existe de real nessa venda de 2 bilhões de ações ordinárias, em termos de controle acionário dessa empresa? Qual é, na realidade, o valor social de um Governo que coloca o cidadão como a prioridade de se investir num plano de expansão apenas de telefones comerciais? Mas esse discurso eu também achei que não era apropriado, eu achei que esse era o momento de dizer, desta tribuna, em nome de todos aqueles anos em que o meu Partido lutou contra as perseguições, contra o arbítrio, e folgo que o Sr. Secretário esteja aqui presente, que este caso do Eng.° Jaime de Marco é apenas a ponta do "iceberg", que o nosso Governo não pode entregar a CRT daqui a mais 2 e poucos anos dilacerada por lutas internas, lutas daquelas que hoje estão sofrendo perseguição e que passam, no momento, a ter um sentimento que jamais houve dentro da CRT que é o do revanchismo e eu não posso, meus amigos, deixar, num momento grave como este, apesar de ser um dia de festa, de alertar o meu Secretário no sentido de que se aperceba das coisas e não permita que se jogue engenheiro contra engenheiro, trabalhador contra trabalhador, e se dilacere esse patrimônio que é o maior da empresa, que é o patrimônio das pessoas que nela trabalham. (Palmas). Finalmente, Sr. Presidente, acho, e tenho a obrigação, como membro deste Governo, e até para não dizer que foram os oposicionistas, Vereadores do PDS e do PFL, que disseram o que vou dizer, e que poderia ser dito que eram problemas de oposicionistas, tenho obrigação de dizer, ao Sr. Presidente desta Casa, que eu considero que as pressões que sofreu o engenheiro Jaime de Marco, muito menos do que atingir o engenheiro Jaime de Marco, atingiram este Legislativo, e é preciso que este Poder cobre do Governo do Estado uma resposta a esta afronta. Não posso, por uma questão de justiça, e o engenheiro Jaime sabe disso, que o quadro começou a reverter na sexta-feira passada, e teve a decisiva participação do Governador Pedro Simon, com quem, no domingo, pela manhã, mantive um rápido contato, e ele manifestou estranheza e perplexidade e prometeu, na segunda-feira, tomar as devidas providências. E porque o Governador teve compreensão, porque o Secretário de Minas e Energia entendeu o problema criado, e, sem duvida nenhuma, graças à decisiva atuação desses dois homens públicos, governador e Secretário de Minas e Energia, que temos a ventura de termos presente aqui o engenheiro Jaime de Marco. E, se mais tempo houvesse, tenho certeza, Vereadores Hermes Dutra e Raul Casa, de que faltaria lugar, nesta Casa, para que todos aqueles que querem ou que quiserem livremente aqui chegar aqui chegassem. Engenheiro Jaime Souza de Marco, sinto muito que minha homenagem tenha sido mais um desabafo que na realidade aquele discurso que eu, em nome dos Engenheiros do Rio Grande do Sul, tenho a obrigação de aqui fazer para te saudar, como engenheiro. Mas, Jaime, na tua apostólica simplicidade, na tua superior inteligência, hás de entender, até pela generosidade das palmas com que esta platéia generosamente me honrou, hás de compreender que foi esta a forma que eu encontrei para te homenagear e para resgatar a tua dignidade e a dignidade dos trabalhadores da CRT. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido o Sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Artur Zanella, a assumir a Presidência dos trabalhos.

 

(O Sr. Ver. Artur Zanella assume a Presidência dos trabalhos.)

 

O SR. PRESIDENTE (Artur Zanella): Concedo a palavra ao Ver. Brochado da Rocha, autor da proposição, que falará pelas Bancadas do PDT e do PCB.

 

O SR. BROCHADO DA ROCHA: Autoridades componentes da Mesa, minhas Senhoras e meus Senhores.

Depois de tão brilhantes e eloqüentes discursos, com assertivas tão fortes, poder-se-ia pensar que o autor da proposição tenha cometido um gesto político, porque político ele é fundamentalmente. No entanto, ele primeiro nascia de um conhecimento mútuo entre o Homenageado e quem o propunha e que acompanhava a carreira de Jaime de Marco desde a adolescência lá nas terras de Belém Novo e que, de longe, exercendo atividades muito distantes, acompanhava a sua carreira, com admiração e verdade. Este foi o gesto inicial.

O segundo gesto, queria eu, de uma forma ou de outra, em passando pela vida pública, destacar a Companhia Telefônica, que comumente se chama de CRT, porque a CRT representa muito para o Rio Grande e talvez para o Brasil. Em verdade, começava a rascunhar a proposição, e, num ato posterior, colocado o nome do Jaime Souza de Marco para homenageá-lo. Por felicidade, ainda havia entrado nesta Casa exatamente o filho do primeiro interventor da CRT, que foi Gabriel Obino, e que hoje se faz presente através do seu filho Flávio Obino. Queria destacar isso porque é um marco indelével na passagem das comunicações no Rio Grande do Sul e do Brasil. Nada melhor do que personificar alguém. Em verdade, é uma homenagem aos homens que, através do seu trabalho, conseguiram mostrar quanto nós, brasileiros, éramos capazes. Este foi o intuito fundamental disso. Permito-me uma digressão: é uma pena que o Sr. Pedro Bisch não esteja entre nós, o nosso inesquecível Homero Simon, que conosco convivia naqueles momentos difíceis que era a implantação da CRT. Muitas coisas foram feitas, Flávio, pelo teu pai, com profundo improviso e dificuldades. Mas era uma conquista do Rio Grande, muito forte, que até hoje está marcando a história do Brasil. Achava que isto não poderia passar despercebido, independente da admiração ao homem e ao seu serviço de técnico, ao seu trabalho desenvolvido ao longo dos anos. Mas tinha eu, também, uma dificuldade. Era difícil prestar uma homenagem a quem tinha um cargo – poderia ser mal-interpretado. Esperei, Jaime, pacienciosamente, para redigir o requerimento, quando comumente se diz que o homem está na planície. Acho que é o momento mais próprio para as homenagens. Assim aprendi. Quando se está a exercer cargos, é fácil, é artificial reunir pessoas para receber homenagem. Mas quero fazer um pequeno reparo – se é que me permite o meu nobre colega Flávio Coulon, dizer a S. Exa., não só a presença do Secretário de Minas e Energia representa alguma coisa nesta Casa. Não. Algumas coisas representam um pouco mais. Em verdade, muitos colegas do Jaime não vieram aqui por vir. É verdade. Muitos não vieram por medo, medo da punição, medo da perseguição. Mas aqui o reparo que aqui me permito fazer, por justiça: os legítimos, os autênticos peemedebistas, não os oportunistas, foram os que franquearam este ato. Agora, os oportunistas, os que chegaram na última hora querendo mostrar serviço, obstaculizaram esta festa. Digo isto, Vereador, e digo isto ao nobre homenageado com a vivência política que adquiri ao longo dos anos para saber como trafegam os oportunistas do momento. São muito pródigos; eles são insinuantes. Vereador, todos os cafajestes são simpáticos, senão não seriam cafajestes. São insinuantes. Por isso, são oportunistas. Por isso, o Jaime, se há aqui uma nódoa neste momento, talvez seja uma nódoa que desnude e torne claro aos anais da história, a presença de todos os Senhores possa desnudar, tornar claro quem tem caráter, quem tem posição por todo o tempo, ou quem anda em ziguezagues, Sou, Jaime, daquelas pessoas que foram muito perseguidas. Trago comigo uma enorme bagagem de perseguição. Tenho muita honra delas, que nem diria uma pessoa mais antiga, sobretudo da nossa fronteira: raio não cai em pau deitado. Por isso, compreendo coisas dessa natureza e sei que os poderosos são pródigos nas suas ações, independente até de partidos políticos, eles sempre existiram. O mundo sempre foi dividido fundamentalmente na corte e nos vassalos. Assim é a vida. Não espero outra coisa da vida, tenho noção bem crítica desta situação, mas queria, Jaime, neste ato, meus Senhores e minhas Senhoras, de deixar marcado nos Anais da Cidade que Jaime de Marco, antes de tudo, é cidadão do Menino Deus. Lá é o seu habitat, lá é o seu mundo, lá, com a sua família, ele faz a sua vida e, dentro daquela paisagem, é impossível desconhecer a sua presença, ele faz parte de uma paisagem, de um bairro da Cidade e, quando for contada a história deste bairro, que neste momento não me cabe fazer, poderão verificar que em todos os momentos teve a presença do Jaime. Depois, indo mais adiante, podemos dizer que, em nível profissional, Jaime desempenhou um papel muito importante, na medida em que ensinou muito, e o ato de ensinar é uma doação. Os seus conhecimentos, que poderiam percorrer o mundo, foram distribuídos entre seus colegas ou nas faculdades em que leciona. Esta doação, Jaime, era necessária que nós referenciássemos, porque eu sei o quanto é dolorosa para aqueles que não sabem aprender ou não tem a humildade de aprender, mas sei o quanto ela é necessária ao mundo em que vivemos. Os oradores que me antecederam já falaram dos inúmeros convites que o nosso Homenageado recebeu, e se manteve em Porto Alegre, teimosamente se manteve em Porto Alegre, teimosamente se manteve na CRT. Talvez tenha cometido um equívoco, mas foi um ideal. Com o andar das coisas, poderíamos dizer que Jaime de Marco consolidou uma posição assumida pelo Rio Grande, transmitida ao Brasil, e hoje é uma figura notável, que deveria ser Cidadão do Brasil e não Cidadão de Porto Alegre. A Casa é muito pequena, a instituição é muito pequena, e a contribuição do Jaime foi muito grande para o Brasil, porque daqui foram tirados grandes ensinamentos para as telecomunicações brasileiras e foi exatamente aqui o marco inicial. Por tudo isso, por esta seleta platéia que congrega hoje esta homenagem, amigos e admiradores do Jaime, vejo da justeza e vejo que o brotar de um sentimento de uma adolescente que, fazendo uma critica através dos anos, entendia que o Jaime era uma das pessoas que referenciavam a Cidade de Porto Alegre e vejo que fiz bem, que não confundi o amigo com o cidadão. Por isso, acho que consegui, em tantos erros, promover um acerto, e este acerto, Jaime, pode ter certeza, é profundamente caro para mim, na medida em que ele me remete às minhas origens como pessoa, na medida em que ele me encontra como homem público de posições claras e a serviço da coisa pública. Acho que é muito difícil dimensionar o trabalho de um homem publico, quer queira, quer não, Jaime de Marco é uma pessoa pública, na medida que agregou os serviços públicos e promoveu coisas publicas. E é um dos patrimônios culturais da sua área, morais, e sobretudo fraternais deste Município, deste Estado.

Por isso, serei breve, até porque foi difícil chegar aqui com tantos percalços. Mas, quero crer, copiando um colega nosso que antecedeu nesta tribuna, que este ato, hoje, não seria possível de ser realizado, com tanta calma, esta Câmara seria tomada por aquelas pessoas mais simples. E, se tens um pecado, Jaime, pelo que sei, que, quando eram para ser punidas as pessoas mais simples, na enorme pilha da tua mesa, colocavas elas em ultimo lugar para a punição, e procuravas os mais simples para advertência, não a breve punição. Eles gostariam muito de estar aqui, eles gostam muito de ti, eles te apreciam, eles aprenderam, não a não cumprir as suas obrigações, até porque eles ficavam com vergonha ao te encontrar e receber uma advertência carinhosa e fraternal.

Por isso, deixo a minha saudação, em especial àqueles que admiram muito o Jaime e que não puderam estar aqui. Eles, para mim, são muito importantes. O carinho que o Jaime dispensou a eles será imorredouro. Era tempo difícil, era tempo fácil de punir, onde punir era mérito, repito: onde punir era mérito, e entrava para o currículo do cidadão; olha, aquele cidadão lá é bom, porque ele pune bastante.

O Jaime se negava a isso. Por isso, quero deixar a minha palavra registrada a ele. Por fim, meus Senhores e minhas Senhoras, ao promover este ato, cumpro um dever político, dever de cidadania, e sobretudo uma consciência que entende que os valores maiores não perecem, apenas saem da vitrine por algum tempo; é possível se exercer cargos, é possível se ter bens, mas não é possível se ter cultura, bondade e, sobretudo, eficiência no trato das coisas públicas.

Isso é tudo, é esta homenagem que quero deixar escrita e dita aos Senhores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito que o Ver. Brochado da Rocha, como autor da proposição, entregue ao Sr. Jaime de Marco o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Solicito, também, que esta parte da solenidade seja apreciada de pé.

 

(É feita a entrega do Título.)

 

O SR. PRESIDENTE: Entrega do Troféu Frade de Pedra. Convidamos a mãe do Homenageado a fazer a entrega. Este Troféu traduz a hospitalidade do Rio Grande do Sul.

 

(Entrega-se o Troféu.)

 

Neste momento, entrego o cargo ao Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): A seguir, a Câmara Municipal de Porto Alegre oferece a palavra ao Dr. Jaime de Marco, nosso homenageado.

 

O SR. JAIME DE MARCO: Exmo. Sr. Presidente da Câmara, Ver. Geraldo Brochado da Rocha, Srs. Vereadores, Srs. Funcionários da Casa, Senhoras e Senhores. Gratidão é a expressão que retrata todo o meu profundo reconhecimento à indicação, às justificativas enfocadas por ilustres membros desta Casa, dos diversos partidos que aqui têm representação, durante o processo de encaminhamento e aprovação do meu nome para receber a sublime honraria de ser escolhido, por unanimidade, Cidadão Emérito de Porto Alegre.

Hoje, mais uma vez, o humanismo, a benevolência, o estímulo manifestados pelos Senhores Vereadores Hermes Dutra, do PDS; Raul Casa, do PFL; Flávio Coulon, do PMDB, que ocuparam a tribuna para saudar e ratificar os motivos deste gesto de especial deferência para com minha pessoa, caracteriza não só esta aproximação geográfica e social tão salutar, existente entre os moradores da Cidade e seus representantes no Poder Legislativo Municipal, como, e principalmente, a acuidade dos mesmos para agirem no cumprimento do universo de suas atribuições precípuas, quer sejam de natureza política, econômica, técnica, cultural ou social.

Todo este clima de emoção, apreço e euforia incide sobre meu ser, aflorando neste momento de carinho e sensibilidade uma seqüência de episódios componentes do meu andar pêlos caminhos do trabalho.

Vem à minha mente, como elos de uma cadeia seqüencial de ocupações empregatícias distintas, a ser encerrada - como a de todo trabalhador - com a conquista almejada da “Justa e Saudável Aposentadoria por Tempo de Serviço”.

Vejo-me no meu primeiro emprego: Bancário.

Posteriormente, na adequação da manutenção da sobrevivência financeira, com a consecução de alcançar a profissão desejada, a desempenhar os encargos de professor primário, ginasial, mentor de menores, estagiário da CEEE, já graduado, a labutar numa empresa particular e - por fim - ingressar na nossa CRT.

Exatamente pelo trabalho desenvolvido nesta querida e dinâmica empresa - a CRT - é que recebo este título significativo.

Cabe aqui ressaltar que esta caminhada - como mais um membro de sua força de trabalho - os telefônicos - gerou para mim a oportunidade de exercer minhas aptidões de empregado, usufruindo em contrapartida, além da remuneração salarial, aprimoramento de conhecimentos e valorização profissional, a viabilização de direcionar todo o composto físico e intelectual de esforços de indivíduo, para empreendimentos com os quais tenho uma identificação filosófica com a alternativa de equacionamento implementada para os mesmos em países com um grau de desenvolvimento como o nosso.

Desde os tempos da inesquecível Escola de Engenharia, do vibrante CEUE, palco de debates e de eternas tertúlias, incorporava-me à corrente de opinião que defendia a idéia de que a prestação de determinados serviços, denominados públicos, devia sua exploração no sentido amplo da palavra, estar diretamente vinculada ao Estado.

Este posicionamento não era produto de frustração doentia ou complexo de inferioridade mas, sim, da percepção da necessidade inadiável de ampliar o leque de especialidades para a área de Engenharia, proporcionando, por corolário, a emersão da potencialidade e do aperfeiçoamento dos egressos das escolas do ensino de Engenharia, na busca de participar do erguimento de um novo patamar científico e tecnológico que se materializasse em benefícios palpáveis e úteis aos diversos segmentos sociais da comunidade.

Nunca é demais recordar que toda sociedade contribui de forma compulsória para carrear recursos para a implantação e manutenção das universidades, quer sejam públicas, quer sejam particulares. Fundamentalmente, para as primeiras.

Somente 1 de cada 100 alunos que ingressam nas escolas primárias alcançam os bancos universitários.

É uma constatação, para a qual a única conduta que não pode ser aceita é a da passividade.

Há, portanto, além das justas e inequívocas conquistas pessoais e profissionais dos graduados em cursos superiores, o inarredável comprometimento moral de influir, participar, empenhar-se no efetivo desenvolvimento econômico, técnico, político, social e cultural da sociedade.

Quando se vivência a oportunidade de concretizar este compromisso, por que não passar do discurso à ação?

Ingresso na CRT em 1963.

Empresa recém criada, encontrei a mesma empenhada na maturação do seu primeiro plano, o denominado PROJETO PRIORITÁRIO, que abarcava cinco cidades do Estado. Porto Alegre, uma delas na época, possuía 14.000 terminais telefônicos, receberia 24.000, ou seja, teriam um ganho real de 10.000 terminais telefônicos.

Surgia a figura nova do acionista da CRT.

Havia um elenco complexo de questões pendentes a serem resolvidas, onde despontava o valor a ser pago aos antigos proprietários dos bens encampados - serviços telefônicos deficientes - mudança de tecnologia - desafio na elaboração do Projeto com o concurso de mão-de-obra apenas nacional- sociedade insatisfeita - e expectativa quanto ao êxito da forma de exploração adotada.

Não obstante, enfatize-se que a Empresa estava planejada e estruturada dentro de um modelo que visava atender as comunidades como um todo, já distinguindo cristalinamente os aspectos de procura e de necessidade por serviços telefônicos.

Tal concepção foi tão acertada e oportuna, no que diz respeito ao controle acionário pelo Estado, que modelo idêntico veio a ser implantado mais tarde em nível de Brasil.

Frize-se que esta minha colocação favorável à adoção do modelo empresarial vigente operacionalizou o que foi assegurado pelas Constituições pátrias de 91, 34, 46, 67 e a atual e tem embasamento na seguinte constatação histórica:

Por um largo período, o desenvolvimento econômico impulsionou o crescimento político e social.

Como decorrência da Revolução Industrial, à medida que a tecnologia adquiriu maturidade e amplitude, passou a monopolizar o trinômio constituído pelo - econômico, político e social -, ditando como conseqüência a divisão do mundo em nações desenvolvidas e subdesenvolvidas.

Nós estamos ainda enquadrados neste último rol.

Como dar um salto de qualidade, visto os países viverem num permanente processo de trocas?

Não há dúvida alguma que creditar ao Estado a posição meramente cartorial no tratamento dos negócios relativos aos serviços públicos de telecomunicações é sumamente formal.

A fiscalização, para ser atuante e eficaz, pressupõe o conhecimento e a experiência nas etapas de projeto, execução, manutenção e operação.

O alcance de uma transformação da situação então existente só era viável com a presença do Estado como acionista majoritário.

Foi este o evento que ocorreu, gerando uma reação em cadeia positiva em vários outros setores, entre os quais dá para destacar:

Na área da educação, em nível médio e superior, com o surgimento da especialização em telecomunicações - no campo da pesquisa e desenvolvimento - na área industrial, com a formação de empresas nacionais, com o objetivo de produzirem equipamentos de telecomunicações, a partir de projetos elaborados por órgão estatal - numa postura mercadológica das operadoras nas relações com os clientes - o estabelecimento de empresas particulares de engenharia, para a execução de serviços de telecomunicações.

Atualmente, as técnicas digitais, a fibra ótica, a comunicação de dados, o telefone público a cartão magnético, o videotexto, a rede digital de serviços integrados, - avanços estes que datam de um passado recente no mundo dos desenvolvidos - também estão presentes em nosso meio, alguns em fase de pesquisa, outros em fase de operação comercial.

Infere-se que a adoção do modelo empresarial escolhido foi oportuna e procedente, visto nossas cidades estarem dotadas de sistemas de telecomunicações projetados, implantados, mantidos e operados por nossa gente, abrindo campo de trabalho para a inteligência da terra.

Não se pode permitir que o modelo entre em exaustão, em fadiga, desacreditando-o perante a sociedade.

Se, por um lado, não se é auto-suficiente em tecnologia; por outro lado, já foi provada e comprovada cabalmente a capacidade de gerenciar com êxito o modelo escolhido.

O Estado tem capacidade gerencial.

Tem que ser perseguida a melhoria de sua efetiva competência.

Outrossim, as mazelas que se abatem sobre a nossa sociedade não podem ser debitadas única e exclusivamente ao contigente dos servidores do Estado e suas respectivas organizações.

Mais uma vez, é uma análise superficial e tendenciosa. A componente ornamental de nosso subdesenvolvimento é a responsável por esta conclusão de afogadilho e apressada.

Quem está minado pela desesperança, a angústia, a incerteza é o todo, lamentavelmente.

Buscar as causas é trabalho de perquirição a ser feito com seriedade e serenidade; e não acatar os respectivos efeitos como verdade absoluta.

Os fatos geradores desta situação anômala é que devem ser detectados de forma sociológica e quantificável.

O que não se pode permitir é que, de tempos em tempos, como novos atilas da iconoclastia, sejam envidados esforços para pulverizar a conjuntura existente, a qual, no mínimo, deve servir como referência para evitar a repetição de situações erradas e inoportunas. Somos um País subdesenvolvido, uma sociedade carente de recursos de todas as espécies.

Há um processo cultural ao qual devem engajar-se todas as forças vivas da comunidade não só para planejar novos tempos, como, e fundamentalmente, para começar vivenciá-los numa interação de um constante aperfeiçoamento para a edificação de uma sociedade democrática, pluralista, equilibrada, ascendente e cada vez mais livre dos bramidos da sordidez, da mesquinharia e do radicalismo.

Durante estes 25 anos como empregado da CRT, independentemente das posições funcionais desempenhadas, tenho trabalhado com denodo, lealdade e iniciativa, premissa básica para todo e qualquer trabalhador manter seu vínculo empregatício.

Tenho buscado, de forma construtiva e discreta, labutar, influir, participar, contribuir para: permanente qualificação e aproveitamento dos colegas, em função dos salutares avanços técnicos e administrativos - pela profissionalização do quadro de pessoal - pelo desenvolvimento gerencial - pela formação de células de novos conhecimentos tecnológicos, para provocar a sua disseminação em nosso meio - por uma política tarifaria justa, porque, nunca é demais ressaltar, serviço público é tarifa real e, para tanto, há necessidade de, "a priori", conhecer-se a relação custo-benefício, para processar-se as devidas adequações - pelo retorno das sobretarifas cobradas - pela capitalização periódica por parte do acionista majoritário - pela implantação de uma política operativa, redução das eventuais áreas de atrito, diversificação do acesso ao serviço de telecomunicações de acordo com o poder aquisitivo do cliente, enfim, tenho palmilhado caminhos no sentido de dar uma conotação de produção à empresa operadora, onde seus produtos são minutos tarifados.

Conseqüentemente, é necessário que haja mercado, investimentos, qualidade, quantidade, custo, preço e avaliação permanente dos resultados alcançados.

Agora, ao agradecer a distinção que me foi proporcionada - Cidadão Emérito de Porto Alegre - não nego que me sinto confortado e orgulhoso. Minha auto-estima está valorizada.

Todavia, nenhum título ou destaque alcança seu verdadeiro objetivo, sua real dimensão, se o mesmo fica enclausurado, única e exclusivamente, na pessoa do agraciado.

Ora, as organizações, independentemente de suas finalidades, existem para servir as pessoas, por meio de pessoas.

Logo, todo o trabalho, seja de um pesquisador extremamente renomado, seja de um simples operário, só alcança seu escopo na íntegra, dentro da concepção para o qual foi desenvolvido, quando sua utilização provoca o progresso, a melhoria e a segurança para o ser humano.

Em essência - Eu estou feliz.

A minha dignidade pessoal foi lembrada.

Sou um cidadão que teve o seu trabalho reconhecido pela Câmara de Vereadores da minha Cidade.

Mas este título não é só fruto do reconhecimento do meu trabalho pessoal.

Este título foi conseguido, porque, na alavancagem para o destaque do homenageado, houve a participação da figura humana e prestativa da telefonista da longa distância, do trabalho permanente do emendador de cabos, do atendimento do instalador e reparador de linhas e aparelhos, da mão-de-obra oferecida pelo apoio logístico, dos homens e mulheres dos centros de serviços, do pessoal do Grupo "L", da qualificação do técnico de grau médio, da capacitação profissional do técnico científico.

Este título premia uma pessoa.

Mas esta pessoa com outras pessoas serviram de forma normalizada, com bom senso e interesse, a outras pessoas que tinham necessidades, carências quanto ao desempenho dos serviços de telecomunicações.

Este é o apanágio tradicional e imorredouro do espírito do telefônico da nossa CRT.

Realmente, quando se deseja serviço, e não só emprego, há a presença viva da componente sentimental.

Certo ou errado?

Deixo a critério dos estudiosos em assuntos dessa natureza a resposta a questão tão controvertível.

Sentimentos não se programam; manifestam-se ou não se manifestam; constituem um estado de espírito de foro íntimo; são naturais, simples e, portanto, têm autenticidade.

Dia de festa.

Dia de congraçamento.

Dia de vida.

Dia de renascer de esperanças.

Dia de respeito à dignidade humana.

Dia de abraçar e beijar meus queridos e "pacenciosos" familiares.

Dia de abraçar os colegas da CRT, os companheiros do CREA, os colegas da Sociedade de Engenharia, do SINTEL, do Sindicato dos Engenheiros, Grêmio de Capão da Canoa.

Dia de relembrar carinhosamente os que me auxiliaram em minhas andanças e compreenderam minha fragilidade.

Dia de relembrar figuras caras que não estão mais presentes.

Dia que já começa a dar lugar à noite.

É tarde.

Preciso voltar ao Menino Deus.

Preciso percorrer a Getulio Vargas, que agora já começa iluminar-se, vendo ou desejando ver a velha ponte de ferro da Praça Garibaldi, o bonde gaiola a deslocar-se num sacolejar desajeitado, o prédio do antigo colégio 13 de Maio, as palmeiras a dançarem orquestradas pelo vento da primavera, como a quererem, uma vez mais, saudar a velha Igreja, o antigo Parque Ganzo com as oficinas da telefônica e chegar na Rua Visconde do Herval e, num passe de mágica, por instantes, nós, eu e a turma da Visconde, que aqui está presente, hoje, todos no limiar da 3ª idade, voltarmos à nossa infância expontânea, à adolescência descompromissada, fardados com a camiseta do Guarani, a jogar no Saldanha Marinho, Pão dos Pobres, Cubanos, a combinar a forma de estar presente no baile de logo à noite, saber o horário do ônibus para Belém Novo, combinar o carnaval no Teresópolis, sonhar com o Saci.

Tudo é imaginação.

Tudo é fantasia.

Tudo é nostalgia.

O tempo transcorreu célere, alterando locais, fisionomias e hábitos.

Porém tudo se constitui na moldura de uma tela pintada por múltiplas mãos, expressando a figura da amizade tão fraterna que nos une.

E, como nos irmana profunda e desinteressadamente.

Lá não há competição.

Somente convívio.

Queremos nos divertir, enquanto há tempo.

Senhor Presidente da Câmara de Vereadores da cidade de Porto Alegre, Dr. Geraldo Brochado da Rocha.

A Vossa Excelência, que, ao encaminhar a indicação do meu nome à consideração dos membros desta Casa, proporcionou-me esta insigne distinção, desejo, mais uma vez, registrar meus agradecimentos e almejar que, como profissional liberal, professor da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e na seara política, continue a trilhar essa trajetória brilhante, vitoriosa e invulgar que tem caracterizado seu desempenho nas atividades públicas, quer no Legislativo, quer no Executivo Municipal.

Cumprimento e agradeço a todos os ilustres representantes do povo desta mui querida e valorosa Porto Alegre.

Que seus projetos pessoais e políticos se concretizem, avalizando a sua forma de agir, em benefício de seus eleitores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE: Ao se encaminhar esta Sessão para o seu encerramento, quero uma vez mais agradecer a presença dos componentes da Mesa, especialmente ao Dr. Daniel Cunha, Secretário Estadual de Minas, Energia e Comunicações, cuja contribuição para esta Sessão agradecemos sobejamente ao Dr. Eurico Trindade Neves, um patrimônio do Rio Grande do Sul, desempenhando o papel de Ministro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul; Eng.º Pedro Bisch Neto, Presidente do CREA, do qual podemos nos orgulhar de termos ombreado lado a lado tarefas comuns. Ao Sr. Jurandir Leite, Presidente do Sindicato dos Telefônicos, ao Jornalista Wilson Muller, representando a ARI e, sobretudo, a figura do nosso querido Alberto André. Por fim, ao nosso Homenageado, a sua esposa, Sra. Ida Lisboa de Marco, aos seus familiares, amigos, suas amigas, aos seus colegas aqui presentes. Profundo agradecimento da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 19h.)

 

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